TRABALHADORES DE LUZ - A caminho da evolução

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

A ARTE DO AMOR INFINITO

Ciência oriental com mais de 4.000 anos de existência o tantra usa o amor carnal para nutrir o espírito

video explicativo: http://www.youtube.com/watch?v=y50unOfxl_Q&feature=player_embedded


Daiana Dalfito

Visto de muitas formas equivocadas no Ocidente, o tantra talvez seja mais conhecido por uma de suas práticas o "Sexo Tântrico", mas essa ‘filosofia’ essencialmente prática tem por objetivo o desenvolvimento máximo e total do humano em seus aspectos, físicos, mentais e espirituais.

A palavra "tantra" vem do sânscrito, uma das línguas oficiais da Índia, e é composta por duas raízes áusticas: "tan", que quer dizer escuridão, e "tra", que se refere à libertação. O tantra é um conjunto de práticas de origem hindu de natureza matriarcal, naturalista, sensorial e de combate à repressão e que vê o corpo como um dos caminhos para o conhecimento.

O sexo é encarado pelos seguidores do Tantra como um canal de propagação de energias, uma via de conhecimento e é muito mais do que ‘o sexo afoito e agressivo’ propagado no Ocidente. O sexo tântrico busca a junção da força passiva e masculina de Shiva (deus da destruição que precede a criação) com a força criativa e feminina de Shakti (deusa mãe, energia cósmica dinâmica).

Ciência pura que determina o poder da transformação individual, o tantrismo prega que cada humano pode transformar a si mesmo e essa transformação precisa de uma metodologia científica encontradas em seus ritos. Para o filósofo Osho, o tantra é o grande ensinamento, que não dita mandamentos. "Ele não cuida do que fazes. Ele cuida do que és, do teu centro, da tua consciência."

Um dos mestres do tantrismo no Brasil é o professor Otávio Leal. Praticante de yoga e tantra há cerca de 20 anos, Leal começou dando aulas de hatha yoga - um sistema iniciado pelo yogi Swatmarama, na Índia do século 15 a.C. Há 15 anos, Leal foi iniciado no tantra pelo mestre Ananda Ran e hoje é co-diretor da Humaniversidade, em São Paulo. Nesta entrevista o professor fala um pouco sobre a ciência ‘tantra’ e o sexo tântrico. (Mais em: www.humaniversidade.com.br)

Jornal da Cidade - O que é o tantra?

Otávio Leal - É um modo de vida e não uma filosofia especulativa como as muitas que vemos no ocidente, não há a crença em algo específico. O tantra é amplo e tem origens tribais o que o afasta das formas civilizadas de pensamento, faz parte das práticas do tantra os mantras (sílabas ou poemas, geralmente em sânscrito, para cantar; se originaram no hinduísmo, mas são utilizados também no budismo e no jainismo), mandalas, posições de yoga, massagens e o ato sexual em si. No tantra um dos princípios se assemelha ao kavanah, pregado por Jesus, ou seja, fazer e agir com boa vontade. O tantra aponta para que as ações sejam praticadas de todo o coração, seja cozinhar, trabalhar, fazer amor ou qualquer outra coisa.


JC - O que é sexo tântrico?

Otávio - É uma das práticas de uma cultura ancestral de origem hindu. O sexo tântrico é ritualístico, meditativo, místico e absolutamente mágico e amoroso.

Os praticantes do tantra se referem ao ato sexual como maithuna, ato sexual ritualizado, é o processo final, quando se é necessário uma preparação anterior através de outras práticas do tantra, como alguns tipos de yoga. Maithuna trabalha com a união dos princípios opostos de Shiva (masculino) e Shakti (feminino). No tantra, o sexo é encarado como forma de ativar a Kundalini, ou seja, a energia cósmica e primordial.

JC - Quais os equívocos mais comuns cometidos por pessoas que não conhecem a prática? Por exemplo, muitas pessoas acreditam que o Kama Sutra é apenas um manual erótico, isso acontece também com o sexo tântrico?

Otávio - Não acredito em equívocos, pois creio que se não conhecem não praticam. Mas há erros quanto à interpretação por falta de informação. O Kama Sutra, por exemplo, não é um livro tântrico, mas têm raízes na cultura religiosa sânscrita. Hoje, como o tantra está muito ligado a hatha yoga, por exemplo, os equívocos são menores, mas muita gente crê que o tantra é apenas sexo. Em São Paulo há inúmeras casas de massagem com o nome "Tantra", mas são apenas casas para a prática sexual não tântricas.

JC - Você já foi discriminado por trabalhar com o tantra?

Otávio - Não. Eu sou muito tranqüilo em relação a outras pessoas e no meu estilo de vida eu não abro espaço para discriminação.

JC - Uma dúvida que surgiu dentre as pesquisas sobre tantra foi que os textos se referem sempre a relacionamentos entre homens e mulheres, mas não entre homossexuais. É possível praticar o sexo tântrico para os que optam pela homossexualidade?

Otávio - Sim. É possível, é natural desde que haja amor.

JC - Quais são as vertentes do tantra e suas principais diferenças?

Otávio - Existem três escolas principais, conhecidas como o caminho da "Direita", "Esquerda" e do "Meio". Eu trabalho com o tantra do meio, que busca equilíbrio na vida e em todas as suas áreas. As características do tantra - ou suas práticas - são, como o já dito, principalmente, o yoga, os mantras (sons de poder), as meditações sexuais ou não, as danças sagradas, as massagens terapêuticas e sensoriais, as respirações, os trabalhos com mandalas e a alimentação. Lembrando que o tantra é uma cultura. Em relação ao sexo tântrico, a linha da Direita não acredita no orgasmo e o vê como desperdício de energia, não tendo orgasmos nunca. Uma das pretensões do tantra é elevar a Kundalini, que é o "orgônio" e a libido. Na corrente da Direita, os praticantes crêem que a Kundalini é elevada através de uma vida, como dizemos, monástica. Os praticantes não fazem sexo nunca ou muito raramente, tentando conter o orgasmo. O sexo é sempre feito com o(a) companheiro(a). Para os seguidores da Direita, em relação à dieta, também não são aceitas as carnes, sendo que a alimentação é totalmente vegetariana. Os seguidores da Esquerda cultivam o orgasmo e sempre chegam ao ápice em suas relações. Para a Esquerda, existe a defesa da tese de que com um estranho o praticante do sexo atingiria um nível maior de prazer, pela erotização "da primeira vez". No que se refere à alimentação são aceitos todos os tipos de carnes, preparadas das mais diferentes formas. O caminho do Meio pondera entre as duas linhas, Direita e Esquerda, e dá ao seguidor a possibilidade da escolha. A do Meio tanto faz se o praticante conhece e tem vínculos com o(a) parceiro(a). Da mesma forma que o sexo, os adeptos podem consumir, eventualmente, carnes brancas se desejarem. É preciso entender que a monogamia é uma tendência de cerca de 4.000 anos. Antes, valia o pensamento tribal, base do Tantra. Para povos "não civilizados", valem os valores de sinceridade e verdade acima de tudo, esses são valores muito tântricos. O tantra não reprime escolhas e estimula a verdade.

JC – Existe estimativa de praticantes de tantra no mundo, Brasil e Estado de São Paulo?

Otávio - Desconheço esses dados, até porque o tantra não é uma religião. Se pensarmos que o yoga é de origem tântrica, aí sim poderemos encontrar um número gigantesco de praticantes em redor do planeta.

JC - Quais são os benefícios físicos e espirituais que a prática do tantra traz para seus adeptos?

Otávio - Físicos, você pode dizer que os praticantes entram na esfera dos que possuem longevidade, a flexibilidade, saúdes. É preciso considerar que com o sexo tântrico, assim como a prática sexual ocidental, libera endorfina – neurotransmissor responsável pelas sensações de euforia e bem-estar - e ela tem efeito sobre um apuro na memória, melhora o humor e o sistema imunológico, aumenta a resistência e a disposição física, entre outras coisas. E o que seria um benefício espiritual? Talvez ficar mais feliz... É, porque a gente confunde um pouco esse conceito "espiritual" aqui no Ocidente, por exemplo, quando alguém diz que ‘têm um problema espiritual’. Mas o que ele tem? Seu espírito está doente, tem gripe, depressão? Isso tudo é doença do corpo, são estados da mente. O espírito é o que somos, o que adoece é o corpo, a mente. Essa sexualidade, esse amor é felicidade. E felicidade não é prazer, prazer é comprar uma casa, um carro, comer um chocolate ou ver o time de futebol ganhar. O tantra atua na felicidade. O livro budista "A Arte da Felicidade", de Dalai Lama, aponta que a área do cérebro responsável pela felicidade, quando a pessoa medita faz com que essa área ‘aumente’ até 700%.

JC - Existem pré-requisitos para praticar o tantra? Há uma idade específica para começar?

Otávio - Não. Não cabe a mim e a ninguém julgar quem deve ou não deve praticar o tantra. No caso das crianças, a prática teórica de alguns conceitos é possível e viável. Se você pensar que o yoga é tântrico, não há contra-indicações. Eu digo que se as pessoas entendessem um pouquinho do que é o yoga correriam para praticar, porque a prática oferece tantos benefícios. Mas cada coisa em seu tempo, a criança tem sua sexualidade e não pode ser ‘mexida’, o ato sexual é inviável.

JC - E as contra-indicações?

Otávio - Não existem. É claro que se a pessoa não está saudável ela não vai poder praticar, mas isso também se aplica se ela for simplesmente fazer amor. Pode ter certeza que é mais fácil morrer no ato sexual convencional do que no tântrico (risos). Dependendo da condição física do praticante é necessário ter-se algumas limitações. Para as práticas mais adiantadas é necessário muita saúde.

JC - Há um tempo mínimo de estudo e "treino" para alcançar um nível "bom"para o tantra?

Otávio - Existem práticas básicas que podem ser aprendidas em um final de semana e algumas adiantadas que levam a vida.

JC - Há um nome específico para quem pratica o tantra? Para ser um mestre qual é o caminho?

Otávio - Um dos nomes usados para o praticante de tantra é Sathaka, usado em uma das escolas, que são muitas. O tantra é uma escola de iniciação e para começar a dar aulas aqui no Brasil precisei viajar muitas vezes à índia e torcer para um dos mestres me iniciaram, isso há muitos anos. Porque, assim como em outras ‘filosofias’ orientais, existe a transmissão de conhecimento, aqui em São Paulo um dos cursos que eu ministro tem a duração de 12 meses, a partir daí o aluno já pode dirigir alguns grupos de yoga tântrico e ensinar algumas práticas, sempre acompanhado de um mestre. Para ser considerado um mestre elevado é preciso "iluminar-se", não existem certificados e alguém dizendo: você é.


Alguns termos do tantra

Kundalini – poder espiritual primordial, é a energia da alma.
Maithuna – é o sexo ritualizado.
Shiva – homem.
Shakti – mulher.


O que faz parte do ritual tântrico

O despertar
As roupas
A comida
O relaxamento
A energização
O ambiente
Os sentimentos
A transa em si


Fonte: Jornal da cidade – 8 de julho de 2007 – Bauru – SP

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