TRABALHADORES DE LUZ - A caminho da evolução

TRABALHADORES DE LUZ - A caminho da evolução

domingo, 30 de janeiro de 2011

Buddha (O ILUMINADO ILUMINADOR)

O Buddha instrui seus dicípulos


“Livre sou, ó monges, de todos os grilhões, sejam divinos ou humanos. Vocês também, ó monges, são livres de todos os grilhões, sejam divinos ou humanos. Vão, ó monges, para o bem de muitos, para a felicidade de muitos, por compaixão pelo mundo, pelo bem, pelo benefício e pela felicidade de deuses e homens. Não deixem dois irem por um caminho. Ensinem, ó monges, o 'Dharma', excelente no início, excelente no meio, excelente no fim, tanto no significado quanto na palavra. Proclamem a Vida Santa, Perfeita e Pura.”

Abstract


Esta Monografia pretende examinar alguns ensinamentos budistas divulgados há mais ou menos 2.500 anos pelo Senhor Buddha. A importância deste estudo é ancorada, principalmente, no fato de que, geralmente, religiosos e místicos desconhecem ou têm pouco interesse pelo que é ensinado fora de suas religiões ou fraternidades. Também penso que seja interessante cotejar princípios religiosos e místicos, não só no sentido de estabelecer uma comparação entre estes mesmos princípios, mas também para conhecer o que disseram e pensaram os seres illuminados do passado. Isto é relevante por dois motivos:

1º) a verdade, por ser relativa, pode (edeve) ser atualizada; e 2º) não há dois illuminados que tenham dito a mesma coisa ou, em outras palavras, cada um trouxe sua visão-interpretação do Todo-Um de uma maneira educativa particular, provocando, com isso, uma espécie de complementaridade religiosa ou mística, entretanto, sempre dialética. Basta que sejam comparados três momentos do espargimento da Santa LLuz – Budismo, Cristianismo e Islamismo – que embutem mensagens distintas, mas tendentes à incriada Unidade cósmica, desde sempre idêntica a si mesma. Mas, como não poderia deixar de ser, devo fazer duas advertências: 1ª) este trabalho está incompletíssimo; mais teve o objetivo de apresentar alguns princípios budistas para quem nada leu sobre o assunto; e

2ª) como não sou budista, é possível que um ou outro erro (ou equívoco) apareçam (involuntariamente) neste estudo. Por isto, humildemente peço perdão. E assim, obviamente, o objetivo maior do trabalho é o de estimular uma pesquisa pessoal sobre o tema. Introdução e Breve Biografia de Siddhartha Gautama, o Buddha M sânscrito e pali, antigas línguas indianas, a palavra Buddha significa Illuminado ou Desperto. Em geral, esta palavra se refere a Siddhartha Gautama – em sânscrito, – também conhecido por Sâkyamuni ou Buddha (que vem do radical Budh e que significa Desperto ou Illuminado). Em chinês, o equivalente é Fo; em coreano, Bul; em japonês, Butsu; e em tibetano, Sangye.

E O Budismo é uma religião/filosofia baseado nas escrituras e na tradição leiga e monástica iniciadas na Índia por Siddhartha Gautama, o Buddha histórico, que viveu aproximadamente entre 563 e 483 a.C. Da Índia, o Budismo se espalhou através da Ásia, Ásia Central, Tibete, Sri Lanka (antigo Ceilão) e Sudeste Asiático, como também para países do Leste Asiático, incluindo China, Myanmar, Coréia, Vietname e Japão. Hoje, o Budismo encontra-se em quase todos os países do mundo, amplamente divulgado pelas diferentes escolas budistas, e conta com cerca de 376 milhões de seguidores.
Na filosofia budista, Buddhas são todos aqueles que despertaram plenamente para a verdadeira natureza dos fenômenos e se puseram a divulgar tal (re)descoberta aos demais seres. A verdadeira-(relativa) natureza dos fenômenos, aqui, quer dizer o entendimento de que todos os fenômenos são impermanentes, insatisfatórios e impessoais, ainda que prevaleça o fato de o Cósmico ser inconsciente de si (existência), de sua natureza (qualidades) e de sua funcionalidade (leis que o regulam). O ser-no-mundo, ao se tornar consciente destas características da atualidade-realidade cósmica, poderá, presumidamente, viver de maneira relativamente plena e relativamente livre dos condicionamentos mentais que causam a insatisfação, o descontentamento e o sofrimento. Assim sendo, do ponto de vista da doutrina budista clássica, a palavra Buddha denota não apenas um mestre religioso que viveu em uma época em particular, mas toda uma categoria de seres illuminados que alcançaram (e que continuam a alcançar) tal realização espiritual.

O Budismo reconhece três tipos de Buddha, dentre os quais o termo Buddha é normalmente reservado para o primeiro tipo, o Samyaksam-Buddha (em pali, Samma-Sambuddha). A realização do Nirvana é exatamente a mesma, mas um Samyaksam-Buddha expressa mais qualidades e capacidades do que as outras duas.
Atualmente, as referências ao Buddha referem-se, em geral, a Siddhartha Gautama, mestre religioso e fundador do Budismo, no século VI antes de Cristo. Ele seria, portanto, o último Buddha de uma linhagem de antecessores, cuja história praticamente se perdeu no tempo. Conta a história, que Ele atingiu a Illuminação durante uma meditação sob a árvore Bodhi, quando mudou seu nome para Buddha, que, como já foi visto, quer dizer Illuminado ou Desperto. Ao se dar esta Illuminação, o Senhor Buddha compreendeu: Em miríades de nascimentos vaguei na existência cíclica, antes de descobrir o verdadeiro conhecimento.
À procura do construtor desta casa, cada novo nascimento trazendo mais sofrimento. Agora conheço você, construtor desta casa! Você não mais me aprisionará. Demoli o seu topo e destruí a sua estrutura até o chão. A consciência entrou naquele estado incondicionado, o final definitivo da sede do desejo... As coisas a serem entendidas foram entendidas, as coisas a serem cultivadas foram cultivadas, as coisas a serem erradicadas foram erradicadas – portanto, brâmane, eu sou

o Buddha.

Ele é chamado Senhor Abençoado (sânscrito: Bhagavan; pali Bhagava) por ter derrotado os quatro demônios e por ter sido (e ser) contemplado com as maiores venturas. Ele é chamado Aquele Que Foi Assim (sânscrito e pali: Tathagata) porque alcançou a compreensão da realidade das coisas ou porque tudo é exatamente como ele disse e não de outra forma. Ele é chamado Vencedor do Inimigo (sânscrito: Arhat; pali: Arahant) porque derrotou o inimigo das aflições mentais ou porque é digno de ser homenageado por meio de oferendas e de veneração. Ele é chamado Plenamente Illuminado (sânscrito: Samyaksambuddha; pali: Sammasambuddha) porque compreendeu todas as coisas de forma verdadeira e infalível.

Ele é chamado Dotado de Conhecimento e de seu Fundamento (sânscrito: Vidyacaranasampanna; pali: Vijjacaranasampanna) porque possui Sabedoria acompanhada de seu fundamento, pois Ele possui moralidade e concentração mental, nas quais se baseia a Sabedoria. Ele é chamado Bem-sucedido (sânscrito e pali: Sugata) porque alcançou o Estado Sublime, e, ainda, porque Dele não decairá.

Ele é chamado Conhecedor do Mundo (sânscrito e pali: Lokavidu) porque, ao compreender a natureza dos doze elos do surgimento interdependente, conhece, com exatidão, o mundo dos seres sencientes e, ao entender a origem da Terra, das montanhas e assim por diante – ao conhecer todas as regiões, suas dimensões e assim por diante – Ele conhece com exatidão o mundo físico externo.

Ele é chamado Líder Insuperável dos Disciplináveis (sânscrito: Anuttarapurusadamyasarathi; pali: Anuttaropurisadamasarathi) por estas razões. Ele é chamado Mestre dos Deuses e dos Homens (sânscrito: Sastadevamanusyanam; pali: Sattadevamanussanam) porque o contingente principal de discípulos é composto por deuses e por homens, ambos recipientes adequados para o Caminho da Liberação, e porque o Buddha lhes ensina o Dharma de acordo com as aspirações deles.

Ele é chamado Desperto (sânscrito e pali: Buddha) porque acordou do sono da ignorância, e também porque sua mente se expandiu até o ponto em que abarca todos os objetos de conhecimento.

Conta-se que, logo após Sua Illuminação, o Senhor Buddha passou por um homem em um caminho que estava perplexo pelo extraordinário esplendor e pela calma de Sua Santa Presença.

O homem parou e perguntou:
— Meu amigo, quem é você? Você é um ser celestial ou um deus?
— Não; não sou um ser celestial nem um deus — disse o Senhor Buddha.
— Bem, então, será que você é algum tipo de mágico ou mago?
Novamente, o Buddha respondeu: — Não sou nem mágico nem mago.
— Você é um homem?
— Também não sou um homem.
— Bem, meu amigo, então, afinal, quem você é?
O Buddha respondeu: — Eu sou um Desperto.
Os relatos tradicionais sobre Sâkyamuni, o Buddha histórico, geralmente dividem sua vida em oito ou doze grandes atos. Estes atos teriam sido realizados não apenas por ele, mas por todos os seres Illuminados do passado. Da mesma forma, diz-se que estes atos serão realizados por todos os seres

Illuminados do futuro. São eles:

1º - existir no paraíso divino de Tusita, sua penúltima morada;
2º - descer de Tusita para o continente de Jambudvipa (pali Jambuvipa), em nosso mundo;
3º - durante um sonho, entrar no ventre de sua mãe como um elefante;
4º - nascer como um guerreiro ou um brâmane, dando sete passos em cada direção;
5º - ter proficiência nas artes mundanas como escrita, matemática e arco-eflecha;
6º - engajar-se nos esportes, desfrutar de consortes, casar-se e viver em palácios;
7º - abandonar a vida de príncipe, deixar o lar e se auto-ordenar como um monge errante;
8º - praticar as austeridades do ascetismo;
9º - à noite, derrotar as hostes de Mâra1, o demônio da ignorância;
10º - pela manhã, atingir a Illuminação ou despertar;
11º - girar a roda do Dharma (em pali, Dhamma), isto é, dar ensinamentos;
12º - alcançar a liberação final.

Os três ensinamentos básicos do Budismo são: evitar o mal, fazer o bem e cultivar a própria mente. O objetivo-mor é o fim do ciclo de sofrimento, samsara, despertando no praticante o entendimento da realidade última – o Nirvana. A moral budista é baseada nos princípios de preservação da vida emoderação. O treino mental está focado na disciplina moral, na concentração meditativa e na sabedoria.

No Budismo, Nirvana – literalmente extinção – é o culminar da busca budista pela libertação. De acordo com a concepção budista, o Nirvana é, triplamente, a superação do apego aos sentidos, a derrota da ignorância e a ultrapassagem da existência física, que é pura ilusão. Siddhartha descreveu o Budismo como uma jangada que, após atravessar um rio, permite ao passageiro alcançar o Nirvana. O Hinduísmo também usa a palavra Nirvana como um sinônimo para sua compreensão de moksha (libertação do ciclo do renascimento e da morte). Aparece, também, em vários textos hindus tântricos, bem como na Bhagavad Gita. Os conceitos hindus e budistas de Nirvana não devem ser considerados equivalentes. Nirvana, no Budismo, é o ápice, o auge, ou seja, é o ponto mais alto de meditação, no qual o Eu Interno se liberta temporariamente do corpo físico, sem perda de consciência e sem, entretanto, abandoná-lo, o que só ocorre na morte ou transição.

Os Ensinamentos do Senhor Buddha

OS ensinamentos do Buddha se baseiam na ética, na moderação e no bom senso, através das Quatro Nobres Verdades e da Óctupla Senda, também conhecida como o Caminho do Meio. O

As Quatro Nobres Verdades Budistas são:

1ª - A Nobre Verdade do Sofrimento (Dukha Satya)
Nascimento é sofrimento; doença é sofrimento; morte é sofrimento. Tristeza, lamentação, dor, pesar e desespero são sofrimentos. Não ter o que se deseja é sofrimento; separação do que se deseja é sofrimento; união com o que não se deseja é sofrimento. Saudade é sofrimento; ser escravo de um passado já morto e de um futuro inexistente é sofrimento. Ser presa fácil de estímulos exteriores de toda ordem é sofrimento. Quando sopram os ventos da sensibilidade, nós vamos cegamente à sensualidade; quando sopram os ventos da raiva nós vamos cegamente à violência; quando sopram os ventos da agitação e da preocupação nós vamos cegamente em direção à ansiedade e à angústia; quando sopram os ventos da dúvida nós vamos cegamente ao ceticismo. Todo sofrimento – assim como toda a nossa felicidade – está na própria mente, pois nenhum inimigo nos poderá fazer tão infelizes quanto nossa mente mal dirigida. Também nenhum parente – seja pai, seja mãe, seja irmão – nos tornará tão felizes quanto nossa própria mente bem dirigida. Em resumo: os cinco agregados da existência quando objetos de apego, isto é, quando tomados como 'eu' e 'meu' são sofrimentos. Os cinco agregados da existência são: corpo, sensações, percepções, consciência e formações mentais.

2ª - A Nobre Verdade da Causa do Sofrimento (Mamudaya Satya) Qual é a causa do sofrimento? É a ignorância, o desejo, o apego, a cobiça, o ódio e a ilusão. Mas, onde o desejo e a ignorância surgem? Onde estão suas raízes? Exatamente onde houver coisas deliciosas e agradáveis, lá o desejo e ignorância surgem, lá eles têm as suas raízes. Visão, audição, olfato, paladar, tato e a mente são deliciosos e agradáveis; lá o desejo e a ignorância surgem, lá eles fincam raízes. Quando percebemos um objeto pela visão, se o objeto é agradável, a pessoa é atraída; e se é desagradável, a pessoa o repele. Então, seja qual for a sensação que experimente, se a pessoa o aprova e acha agradável; então, a sensação condiciona o desejo, e desejando a pessoa se apega ao objeto desejado. Assim, o desejo condiciona o apego. Quando a pessoa se apega, ela irá agir pela palavra ou pelo o corpo para possuir o objeto desejado. Deste modo, então, o apego condiciona a ação (Karma) ou processo de vir-a-ser. O processo de vir-a-ser (ou existência) condiciona o nascimento. Dependendo do nascimento, haverá decadência e morte, tristeza e lamentação, dor e pesar, ressentimento e desespero. Assim surge essa imensa massa de sofrimento.

3ª - A Nobre Verdade da Extinção da Causa do Sofrimento (Mirodha Satya) O que é a extinção do sofrimento? É a completa erradicação e desaparecimento da ignorância, do desejo, do apego, da cobiça, do ódio e da ilusão, e, em conseqüência, o abandono e a libertação da ilusão do eu e do meu. Com a extinção da ignorância o desejo é extinguido. Pela cessação do desejo, cessa o apego. Pela cessação do apego o processo de vir a ser ou as ações (Karma) é extinguido. Pela cessação de vir-a-ser, o nascimento é extinguido. Pela cessação do nascimento, decadência e morte, tristeza e lamentação, dor e pesar, ressentimento e desespero serão extinguidos. Assim, se dá a extinção de toda esta massa se sofrimento.

4ª - Nobre Verdade da Senda que Leva à Extinção do Sofrimento (Magga Satya) Os dois extremos e a Senda do meio. Os prazeres sensuais, o comum, o vulgar, o mundano, sem qualquer sentido para o progresso na Senda espiritual. Ou: a mortificação do corpo que é dolorosa e também sem vantagem qualquer para a vida santa. Ambos estes extremos, o iluminado evitou e descobriu a Senda Média, a qual propícia qualquer um ver e compreender, que leva à paz, ao discernimento, à iluminação e ao Nirvana. A Senda Óctupla (Senda do Meio): 1) Linguagem Correta; 2) Ação Correta; 3) Modo de Vida Correto; 4) Esforço Correto; 5) Atenção Plena e Correta; 6) Concentração Correta;7) Compreensão Correta; 8) Pensamento Correto. E o que é a Linguagem Correta? Abster-se da linguagem mentirosa, da linguagem maliciosa, da linguagem grosseira e da linguagem frívola. A isto se chama linguagem correta.

E o que é a Ação Correta? Abster-se de destruir a vida, abster-se de tomar aquilo que não for dado, abster-se da conduta sexual imprópria. A isto se chama de ação correta. E o que é o Modo de Vida Correto? Aqui um nobre discípulo, tendo abandonado o modo de vida incorreto, obtém o seu sustento através do modo de vida correto. A isto se chama modo de vida correto. E o que é o Esforço Correto? (i) Aqui, bhikkhus, um bhikkhu gera desejo para que não surjam estados ruins e prejudiciais que ainda não surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. (ii) Ele gera desejo em abandonar estados ruins e prejudiciais que já surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. (iii) Ele gera desejo para que surjam estados benéficos que ainda não surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. (iv) Ele gera desejo para a continuidade, o não-desaparecimento, o fortalecimento, o incremento e a realização através do desenvolvimento de estados benéficos que já surgiram e ele se aplica, estimula a sua energia, empenha a sua mente e se esforça. A isto se denomina esforço correto.

E o que é a Atenção Plena e Correta? (i) Aqui, bhikkhus, um bhikkhu permanece focado no corpo como um corpo ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o prazer pelo mundo. (ii) Ele permanece focado nas sensações como sensações ardentes, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o prazer pelo mundo. (iii) Ele permanece focado na mente como mente ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de ladoa cobiça e o prazer pelo mundo. (iv) Ele permanece focado nos objetos mentais como objetos mentais ardentes, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de lado a cobiça e o prazer pelo mundo. A isto se denomina atenção plena e correta. E o que é a Concentração Correta? (i) Aqui, bhikkhus, um bhikkhu afastado dos prazeres sensuais, afastado das qualidades não-hábeis, entra e permanece no primeiro jhana, que é caracterizado pelo pensamento aplicado e sustentado, com o êxtase e a felicidade nascidos do afastamento. (ii)

Abandonando o pensamento aplicado e sustentado, um bhikkhu entra e permanece no segundo jhana, que é caracterizado pela segurança interna e perfeita unicidade da mente, sem o pensamento aplicado e sustentado, com êxtase e felicidade nascidos da concentração. (iii) Abandonando o êxtase, um bhikkhu entra e permanece no terceiro jhana que é caracterizado pela felicidade sem o êxtase, acompanhada pela atenção plena, plena consciência e equanimidade, acerca do qual os nobres declaram: ‘Ele permanece em uma estada feliz, equânime e plenamente atento.' (iv) Com o completo desaparecimento da felicidade, um bhikkhu entra e permanece no quarto jhana, que não possui nem felicidade nem sofrimento, com a atenção plena e a equanimidade purificadas.

A isto se denomina concentração correta. E o que é a Compreensão Correta? Compreensão do sofrimento, compreensão da origem do sofrimento, compreensão da cessação do sofrimento, compreensão do caminho da prática que conduz à cessação do sofrimento. A isto se chama entendimento correto. E o que é o Pensamento Correto? O pensamento de renúncia, o pensamento de não má vontade, o pensamento de não crueldade. A isto se chama pensamento correto. [O homem comum é, geralmente, desprovido de correta compreensão. Não sendo treinado na Nobre Doutrina, seu Coração é possuído e dominado pela ilusão da existência de um eu individual, pela dúvida, pelo apego a meras regras religiosas e a rituais, pelo desejo sensual insaciável e pela raiva.

E assim, pratica, basicamente, três tipos de ações demeritórias:

1) Pelo corpo: destrói os seres vivos, rouba, explora, adultera, ingere tóxicos e bebidas alcoólicas;
2) Pela palavra: mente, calunia, age como leva-e-traz, profere palavras pesadas, duras e ofensivas, tagarela levianamente e suas conversas são frívolas; e
3) Pela mente: é cobiçoso, egoísta, vaidoso, tem má vontade, ódio e raiva e possui, usualmente, errôneos pontos de vista. Tudo isto pode ser resumido em um quadrado monstruoso e retrocessivo: cobiça, ódio, ignorância e egoísmo.]

Cinco regras fundamentais:

1ª) ninguém deve matar uma criatura;
2ª) ninguém deve se apoderar daquilo que não lhe é dado;
3ª) ninguém deve mentir; 4ª) ninguém deve se embriagar; e
5ª) cada qual que pratique a castidade.

A criação é eterna; logo, não é necessário aceitar um criador.
Queridos amigos: tendo por testemunhas seres humanos, deuses, brâmanes, monges e maras, eu vos digo que se não tivesse experienciado diretamente tudo o que afirmo aqui, jamais proclamaria ser uma pessoa iluminada e liberta do sofrimento. Devido ao fato de eu mesmo ter identificado o sofrimento, compreendido o sofrimento, identificado as causas do sofrimento, removido as causas do sofrimento, confirmado a existência do bem-estar, obtido o bem-estar, identificado o caminho para o bem-estar, ido
até o final do bem-estar e realizado a liberação total, eu agora proclamo a vocês que eu sou uma pessoa livre.

Livre sou, ó monges, de todos os grilhões, sejam divinos ou humanos. Vocês também, ó monges, são livres de todos os grilhões, sejam divinos ou humanos. Vão, ó monges, para o bem de muitos, para a felicidade de muitos, por compaixão pelo mundo, pelo bem, pelo benefício e pela felicidade de deuses e homens. Não deixem dois irem por um caminho. Ensinem, ó monges, o 'Dharma', excelente no início, excelente no meio, excelente no fim, tanto no significado quanto na palavra. Proclamem a Vida Santa, Perfeita e Pura. [e Una].

Quando perguntavam ao Senhor Buddha como havia sido criado o Universo, Ele respondia: — O átomo não pode compreender o Cosmos.

De que material se compõe o Universo? O Universo é eterno? Existem limites para o Universo? De que maneira se agrega a sociedade humana?

Qual a organização ideal da sociedade humana? Se um homem postergar sua busca e prática da Illuminação até que tais questões sejam solucionadas, ele morrerá antes de encontrar o Caminho.

A mente de um homem pode fazê-lo um Buddha ou uma fera. Corrompido pelo erro, torna-se um demônio; illuminado, torna-se um Buddha. Controlai, portanto, vossa própria mente; e não a deixeis se afastar do Caminho correto.

Buddha não é um corpo físico; é a Illuminação. O corpo físico perece, mas a Illuminação subsistirá para sempre na verdade do Dharma2 e na prática do Dharma.

Feliz seria a Terra se todos os seres estivessem unidos pelos laços da benevolência e só se alimentassem de alimentos puros, sem derrame de sangue. Os dourados grãos que nascem para todos dariam para alimentar e dar fartura ao mundo. [O ápice da compreensão dos ensinamentos budistas é a realização interior e consciente de que tudo é Um – não há o Outro. O Outro é uma ilusão derivada do culto quimérico da individualidade.]

Eu sou o resultado de meus próprios atos, herdeiro de meus próprios atos. Os atos são meu parentesco e recaem sobre mim; qualquer ato que eu realize, bom ou mau, eu dele herdarei. Eis em que deve refletir todo homem e toda mulher. [Somos responsáveis por tudo; não há transferência possível.]

O ódio não desaparecerá enquanto pensamentos de mágoas forem alimentados na mente. Ele desaparecerá, sim, tão logo esses pensamentos de mágoa forem esquecidos. [Não sei se o Senhor Buddha disse literalmente esquecidos; mas, eu prefiro compreendidos.]

Tudo o que nasceu irá morrer; tudo o que foi reunido será espalhado; tudo o que foi acumulado terá fim; tudo o que foi construído será derrubado; e tudo o que esteve nas alturas será rebaixado. [Para compreender é necessário descompreender.]

Se o telhado for mal construído ou estiver em mau estado, a chuva irá entrar na casa. Da mesma forma, a cobiça facilmente entra na mente, se ela é mal treinada ou está fora de controle. Nossa existência é transitória como as nuvens do outono. Observar o nascimento e a morte dos seres é como olhar os momentos da dança. A duração da vida é como o brilho de um relâmpago, no céu, tal como uma
torrente que se precipita montanha abaixo. [Bem disse o Mestre Apis, Hierofante da Ordo Svmmvm Bonvm: A Vida é eterna. As criaturas são transitórias.]

Se o desejo, que se aloja na raiz de toda a paixão humana, puder ser removido, aí, então, morrerá esta paixão e desaparecerá, conseqüentemente, todo o sofrimento humano. Praticar o bem, abster-se do mal e purificar os pensamentos são os mandamentos de todo Illuminado.

Uma mente perturbada está sempre ativa, saltitando daqui para lá, sendo difícil de controlar; mas a mente disciplinada é tranqüila. Portanto, é bom ter sempre a mente sob controle. [Sim. Só controlando a mente será possível evitar ou minimizar possíveis erros de avaliação, como, por exemplo, o prejulgamento, coisa inaceitável que está acontecendo em muitas cabeças atualmente no Brasil, relativamente àquela monstruosidade que está sendo diariamente divulgada pela mídia como o Caso Isabella. Como escreveu Christiano Fragoso no texto Prejulgamento Induz Suspeição, o prejulgamento em que incorra um Magistrado transforma o processo em um jogo de cartas marcadas conspurcando a obra de realização da Justiça, de que somos todos operários. Decididamente, não devemos e não podemos dar vazão aos nossos instintos não satisfeitos, pois, todos são inocentes perante a lei, até que se prove o contrário. Por outro lado, também não devemos e não podemos nos esquecer jamais de que aos acusadores cabe o ônus da prova. Agora, o óbvio: se haveremos de compensar todos os nossos equívocos, haveremos de compensar também, oportunamente, todos os prejulgamentos que fizermos.]

Aquele que protege sua mente da cobiça e da ira desfruta da verdadeira e duradoura paz. O leite fresco demora a coalhar. Assim, os maus atos nem sempre trazem, resultados imediatos. Esses atos são como brasas ocultas nas cinzas e que, latentes, continuam a arder até causar grandes labaredas. Um amigo insincero e mau é mais temível que um animal selvagem; a fera pode ferir o corpo, mas o mau amigo pode ferir a mente. O homem que busca a fama, a riqueza e casos amorosos é como uma criança que lambe o mel na lâmina de uma faca... É como um tolo que carrega uma tocha contra um vento forte correndo o risco de ter as mãos e o rosto queimados.

Viver apenas um dia e ouvir um bom ensinamento é melhor do que viver um século sem conhecer tal ensinamento. Um homem será tolo se alimentar desejos pelos privilégios, pela promoção, pelos lucros ou pela honra, pois tais desejos nunca trazem felicidade; pelo contrário, apenas trazem sofrimentos.

Um bom amigo, que nos aponta os erros e as imperfeições e reprova o mal, deve ser respeitado como se nos tivesse revelado o segredo de um oculto tesouro.

As Escrituras Védicas foram escritas por homens. Por isto, também contêm falhas.

Um rochedo não é abalado pelo vento; a mente de um sábio não é perturbada pela honra ou pelo abuso.

Dominar-se a si próprio é uma vitória maior do que vencer a milhares em uma batalha.

Aqueles que se respeitam e se amam a si mesmos devem estar sempre alertas para que não sejam vencidos pelos maus desejos. [Não esqueçamos de que, tanto o omisso quanto o comisso, cometem um delito. Não existem essas coisas de que não é problema meu e de que eu não tenho nada com isso. Somos todos UM. Tudo é problema de todos e todos têm tudo com tudo.] Não viva no passado, não sonhe com o futuro; concentre a mente no momento presente.

Não acrediteis em uma coisa apenas por ouvir dizer. Não acrediteis na fé das tradições só porque foram transmitidas por longas gerações. Não acrediteis em algo só porque é dito e repetido por muita gente. Não acrediteis em uma coisa só pelo testemunho de um sábio antigo. Não acrediteis em uma coisa só
porque as probabilidades a favorecem ou porque um longo hábito vos leva a tê-la por verdadeira. Não acrediteis no que imaginastes pensando que um ser superior a revelou. Não acrediteis em coisa alguma apenas pela autoridade dos mais velhos ou dos vossos instrutores.

Mas, aquilo que vós mesmos experimentastes, aquilo que vós mesmos provastes e aquilo que vós mesmos reconhecestes como verdadeiro, aquilo que corresponde ao vosso bem e ao bem dos outros, isto, sim, deveis aceitar, e, por isso, moldar a vossa conduta. Meditação traz sabedoria; a falta de meditação deixa a ignorância. Saiba bem o que lhe conduz para frente e o que lhe prende atrás, e escolha o caminho que o guiará à sabedoria.

Tudo o que nasceu está sujeito à morte. Portanto, dediquem-se com energia ao trabalho de emancipação final.

Tudo que é composto se decompõe. Antes de dar, o Coração se alegra; durante o ato de dar, ele se purifica; e, depois de dar, ele se sente satisfeito.

Somos aquilo que pensamos ser.

Aquele que inveja os outros não tem paz.

Todas as coisas são precedidas, guiadas e criadas pela mente. Tudo o que somos hoje é o resultado do que temos pensado. O que hoje pensamos determina o que seremos amanhã. Nossa vida é a criação de nossa mente.

Um homem no campo de batalha conquista um exército de mil homens... Um outro conquista a si mesmo, e este é o maior. Veja aquele rio. Sua correnteza corre em ritmo normal. Ela nunca se adianta e nem se atrasa. Ela apenas corre. Nós temos que ser como aquele rio.

Ao decidir sair em peregrinação em busca da Illuminação o Senhor Buddha disse: Enquanto as pessoas não são afetadas pela doença, pela velhice ou pela morte, elas não pensam sobre essas coisas. Eu preciso, agora, encontrar o Caminho para acabar com a fonte desse sofrimento.

Todos aqueles que nascem nesse mundo devem experimentar o pesar da separação. Estou deixando minha casa para descobrir a Senda pela qual o ser humano pode escapar desse sofrimento. Ao se aproximar o momento de Sua Grande Iniciação, suas últimas palavras foram: Ó, monges! Estas são minhas últimas palavras. Tudo o que foi criado está sujeito à decadência e à morte. Tudo é impermanente. Trabalhem duro pela própria salvação com atenção plena, esforço e disciplina. Sejam ilhas em si mesmos, sejam um refúgio para si mesmos; não tomem para si mesmos nenhum outro refúgio. Vejam a verdade como uma ilha, vejam a verdade como um refúgio. Não procurem refúgio em ninguém a não ser em si próprios. [Se o Senhor Buddha não disse, talvez tenha pensado: Não procurem refúgio nem em Deus. Logo, possivelmente, a maior prisão que o ser-no-mundo enfrenta é a imposição-aceitação de um

Deus egregórico, coletivo. Ao nascer, lhe é imposto um Deus; depois, por não conseguir se livrar desta idéia cultural imposta, morre com ela. Todavia, se vencer gaiola e muro... A Claridade-Vida substituirá o escuro!]

Três Parábolas Budistas


À Procura das Pérolas

A NANDA disse ao Buddha: — O senhor, ó Buddha, nasceu em uma família real, permaneceu sentado sob uma árvore e meditou sobre a sabedoria durante seis anos. Obter assim (a dignidade) de Buddha é lográ-la facilmente. A O Senhor Buddha respondeu a Ananda: — Certa vez, Ananda, havia um senhor proprietário extremamente rico que possuía toda sorte de jóias, mas como não possuía as verdadeiras pérolas vermelhas, não se sentia satisfeito.

Levando consigo outros homens, ele foi ao mar para recolher algumas pérolas; após superar vários perigos e obstáculos, conseguiu chegar ao local onde se encontravam as jóias. Ele cortou seu corpo para fazer correr o sangue, o qual colocou em um saco untado com óleo, suspenso no fundo do mar. As ostras, ao sentirem o odor do sangue, vieram sugá-lo. Então, ele pôde retirar as ostras e, abrindo-as, fez saírem as pérolas; recolhendo-as dessa maneira durante três anos, ele chegou a formar um colar inteiro.

Quando retornava, ao chegar à margem de um rio, seus companheiros, vendo que trazia jóias preciosas, armaram-lhe uma cilada. Enquanto o seguiam para pegar água, reuniram-se e o atiraram em um poço, que depois cobriram, e partiram. Passado um longo tempo desde que caíra no fundo do poço, o homem percebeu um leão que se aproximava por um orifício lateral para beber água. Ele novamente teve muito medo. Mas, quando o leão partiu, o homem procurou a passagem por onde o animal havia vindo, pôde sair (do poço) e voltar a seu país. Quando seus companheiros retornavam à sua casa, o homem os chamou e disse: — Vocês me roubaram um colar. Ninguém o sabe, nem que vocês também tentaram me fazer perecer. Devolvam-no em segredo e eu não os denunciarei. Temerosos, os homens devolveram as pérolas. De posse das jóias, o proprietário levou-as para casa.

Ele tinha dois filhos que brincavam com as pérolas, colocando-as sobre o corpo, e perguntavam um ao outro:
— De onde vêm essas pérolas?
Um deles disse: — Elas vieram do saco que tenho na mão.
O outro disse: — Elas vieram de um jarro que está nesta sala.
Vendo aquilo, o pai começou a rir. Sua esposa lhe perguntou a razão,
e ele respondeu: — Recolhi essas pérolas mediante um sofrimento extremo; essas crianças as receberam de mim, não sabem nada dessa história e pensam que as pérolas vieram de um jarro.
O Buddha disse a Ananda: — Você me vê somente após ter-me tornado Buddha, mas ignora com que esforço e pena me dediquei ao estudo por incontáveis kalpas. Agora, cheguei ao objetivo e você pensa que foi fácil, tal como aquelas crianças que pensavam que as pérolas vinham do jarro.

Assim, podemos atingir o objetivo praticando inúmeras boas ações e acumulando mérito durante muitos kalpas, mas não se trata do resultado, nem de um só ato, de uma única ação ou de uma só vida.
Parábola do Bom Médico M determinada época vivia um médico, excelente no preparo de receitas de remédios. Ele tinha cerca de 100 filhos. Enquanto esteve fora de casa, numa viagem a um distante país, todos os seus filhos beberam veneno por engano, debatendo-se de dor e caindo ao chão à medida que o veneno penetrava em seus corpos.

Ao retornar para casa, o médico encontrou seus amados filhos em agonia por toda a casa e ficou muito chocado e triste. Alguns dos que tomaram o veneno perderam completamente a razão, enquanto outros, ainda, estavam conscientes. Todas aquelas crianças, ao verem seu pai, ficaram contentes e correram ao
seu encontro, lhe implorando: — Pai! Estamos muito felizes de encontrá-lo em boa saúde. Nós tomamos veneno por engano, por causa de nossa ignorância. Por favor, nos salve e nos dê forças. Imediatamente, o médico juntou muitas ervas medicinais de bom sabor, bom cheiro e linda cor receitando-as de várias maneiras como um maravilhoso remédio às suas crianças enfermas. Aqueles que ainda não haviam perdido a razão tomaram imediatamente o remédio e escaparam das dores agudas e sofrimentos. Os que não mais faziam uso da razão não tomaram o remédio, apesar das recomendações do bom médico.

O pai ficou muito triste e decidiu usar um último recurso para convencer seus filhos a se curarem. Ele disse: — Eu vou morrer de velhice. Antes de começar a minha jornada, deixarei este remédio bom com vocês. Se vocês tiverem problemas, tomem-no. E saiu de casa dirigindo-se a outro país. Lá chegando, enviou um mensageiro à sua casa, que disse a seus filhos: — Infelizmente seu pai faleceu.
— Agora ninguém cuidará de nós com misericórdia e bondade — exclamaram os filhos diante da notícia, finalmente decidindo tomar o remédio. Logo se recuperaram completamente e o pai, ciente de que isso aconteceria, retornou para casa encontrando seus filhos felizes.

Nesta famosa parábola, o remédio maravilhoso com bom sabor, linda cor e bom cheiro simboliza a oração 'Nam Myoho Rengue Kyo' ensinada pelo bom médico, que é o Buddha, e o veneno indica as religiões desencaminhadoras (que deixam as pessoas iludidas e desorientadas).

Compaixão Para Com Todos os Seres Vivos

CERTA vez o Mestre observava um rebanho de carneiros que avançava lentamente conduzido pelos pastores. Chamou-lhe a atenção uma ovelha com dois cordeirinhos, sendo que um deles, ferido, caminhava penosamente. Buddha tomou o cordeirinho ferido em seus braços e exclamou: — Pobre mãe, tranqüiliza-te. Para onde fores, levarei teu querido filhote. E pensou: 'É preferível impedir que sofra um animal, a permanecer sentado nas cavernas contemplando os males do Universo.

Sabendo pelos pastores que, por ordem do rei, o rebanho seria levado, à noite, para o sacrifício e imolado em honra aos seus deuses, Buddha então falou: — Quero ir convosco. E os seguiu pacientemente, carregando o cordeirinho nos braços.

Chegando à sala dos holocaustos, observou os brâmanes recitando mantras e avivando o fogo que crepitava no altar. Um dos sacerdotes, apoiando a faca no pescoço estirado de uma cabra de grandes chifres, exclamou: — Eis aí, ó deuses, o princípio dos holocaustos oferecido pelo rei Bimbisara.

Regozijai-vos vendo correr o sangue e gozai com a fumaça da carne tostada nas chamas ardentes; fazei com que os pecados do rei sejam transferidos para esta cabra e que o fogo os consuma ao queimá-la; vou dar o golpe fatal.

Aproximando-se, Buddha disse docemente: — Não a deixeis ferir, ó grande rei! E ao mesmo tempo desatou os laços da vítima, sem que ninguém o detivesse, tão imponente era seu aspecto.

Então, depois de haver pedido permissão, falou da vida que todos podem tirar, mas ninguém pode dar; da vida que todas as criaturas amam e pela qual lutam; a vida, esse dom maravilhoso e caro a todos, mesmo aos mais humildes; um dom precioso para todas as criaturas que sentem piedade, porque a piedade faz o homem doce para com os débeis e nobre para com os fortes.

Emprestou às mudas bocas do seu rebanho palavras enternecedoras para defender sua causa; demonstrou que o homem que implora a clemência dos deuses não tem misericórdia, ele que é como um deus para os animais; fez ver que tudo o que tem vida está unido por um laço de parentesco; que os animais que matamos nos deram o doce tributo do seu leite e de sua lã e colocaram sua confiança nas mãos dos que os degolam. E acrescentou: — Ninguém pode se purificar com sangue sua mente; se os deuses são bons, não podem se comprazer com o sangue derramado; e se são maus, não podem lançar sobre um pobre animal amarrado o peso de um cabelo dos pecados e erros pelos quais se deve responder pessoalmente. Cada um deve dar conta de si mesmo, segundo esta aritmética invariável do Universo, dando a cada um sua medida segundo seus atos, suas palavras e seus pensamentos. Esta lei exata, implacável e imutável vigia eternamente, e faz com que todos os futuros sejam frutos do passado. Falou assim, com palavras tão misericordiosas e com tal dignidade, inspirado pela compaixão e pela justiça, que os sacerdotes se despojaram dos seus ornamentos e lavaram suas mãos vermelhas de sangue. E o rei, aproximandose, saudou o Buddha com as mãos juntas.

Uma Estória Para Pensar


O Pote Rachado

Um velho carregador de água, na Índia, levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de uma vara, à qual ele carregava atravessada em seu pescoço.

Em um dos potes havia uma rachadura, enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no fim da longa jornada entre o poço e a casa do senhor do velho carregador de água; já o pote rachado chegava apenas com água pela metade.

Foi assim por dois anos. Diariamente, o carregador entregando um pote e meio de água na casa do seu senhor. Claro, o pote perfeito estava orgulhoso de suas realizações. Porém, o pote rachado estava envergonhado de sua imperfeição, e sentindo-se miserável por ser capaz apenas de realizar a metade do que ele havia sido designado a fazer.

Após perceber que, por dois anos, havia sido uma falha amarga, o pote, um dia, na beira do poço, falou para o homem:
— Estou muito envergonhado, e quero lhe pedir desculpas.
— Por quê? — Perguntou o homem. — De que você está envergonhado?
— Nesses dois anos, eu fui capaz de entregar apenas a metade da minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho que vai do poço à casa de seu senhor. Por causa do meu defeito, você tem que fazer todo esse trabalho, e não ganha o salário completo dos seus esforços
— disse o pote.
O homem ficou triste pela situação do velho pote, e, com compaixão, falou:
— Quando retornarmos à casa de meu senhor, quero que percebas as lindas flores que nasceram ao longo do caminho.
De fato. À medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou flores selvagens ao lado do caminho, e isto lhe deu certo ânimo. Mas, no fim da estrada, o pote ainda se sentia mal porque, mais uma vez, havia vazado a metade da água que carregava, e, de novo, pediu desculpas ao homem por sua indesculpável falha.

Disse o homem ao pote:
— Meu amigo e companheiro pote: você notou que pelo caminho só havia flores no seu lado. Eu, ao perceber o seu defeito, tirei vantagem dele. E lancei sementes de flores no seu lado do caminho; e, cada dia, enquanto voltávamos do poço, você as regava. Por dois anos, eu pude colher estas lindas flores para ornamentar a mesa de meu senhor. Sem você ser do jeito que você é, ele não poderia desfrutar desta beleza para dar graça à sua casa. Considerações Budistas do Dalai Lama
Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, líder cespiritual do Tibet, é reconhecido como a mais expressiva figura humana do Budismo vivente na atualidade. São dele as considerações budias que se seguem e que demonstram a essência da metafísica budista aplicada à vida prática:

O que mais nos incomoda é ver nossos sonhos frustrados. Mas permanecer no desânimo não ajuda em nada para a concretização desses sonhos. Se ficarmos assim, nem vamos em busca dos nossos sonhos, nem recuperamos o bom humor! Este estado de confusão – propício ao crescimento da ira – é muito perigoso. Temos de nos esforçar e não permitir que a nossa serenidade seja perturbada.

Uma grande questão sublinha a nossa experiência, quer a examinemos conscientemente ou não: qual é o propósito da vida? Desde o seu nascimento, todo ser humano almeja a felicidade e foge do sofrimento. Não existem condições sociais, níveis de educação ou ideologias que alterem esse fato. Do
fundo de nosso ser, simplesmente desejamos ter contentamento. Portanto, é importante descobrir o que nos pode trazer o mais alto grau de felicidade.

Acredito que o objetivo da nossa vida seja a busca da felicidade. Isso está claro. Quer se acredite em religião ou não, quer se acredite nesta religião ou naquela, todos nós buscamos algo melhor na vida. Portanto, acho que a motivação da nossa vida é a felicidade.

Devemos investigar e aceitar o resultados. Se não resistem a estes testes, até as palavras de Buddha devem ser rejeitadas.
A única forma de desenvolvimento é um esforço constante através da meditação. É claro que, no início, isso não é fácil. Encontram-se dificuldades inesperadas; às vezes, há perda de entusiasmo. Ou, talvez, o entusiasmo inicial seja excessivo e diminua progressivamente com o passar das semanas ou meses. É preciso elaborar uma abordagem persistente, constante, baseada em um compromisso de longo prazo.

Nós nos acostumamos com facilidade à preguiça da mente, sobretudo porque muitas vezes essa preguiça se esconde sob a aparência de atividade: corremos de um lado para outro, fazemos cálculos e damos telefonemas. No entanto, tudo isso ocupa apenas os níveis mais toscos e elementares da mente. E oculta o que existe de essencial em nós. Determinação, coragem e autoconfiança são fatores decisivos para o sucesso.

Não importa quais sejam os obstáculos e as dificuldades. Se estamos possuídos de uma inabalável determinação, conseguiremos superá-los. Independentemente das circunstâncias, devemos ser sempre humildes, recatados e despidos de orgulho.

Se você quer transformar o mundo, experimente primeiro promover o seu aperfeiçoamento pessoal e realizar inovações no seu próprio interior. Estas atitudes se refletirão em mudanças positivas no seu ambiente familiar. Deste ponto em diante, as mudanças se expandirão em proporções cada vez maiores.

Se uma pessoa tem realmente um profundo interesse em crescer espiritualmente, a prática da meditação é imprescindível – é a chave para isto.

Somente orações ou o simples desejo não influenciam de modo significativo a mudança espiritual interior.

Simplesmente não há razão porque os animais devam ser abatidos para servir como dieta humana enquanto existem tantos substitutos. O homem pode viver sem carne.

Fragmentos Escolhidos do

Pensamento do Buddha

Se eu, do pouco que li, tivesse que escolher dois fragmentos dos ensinamentos do Senhor Buddha, seriam estes:

1º - As Escrituras Védicas foram escritas por homens. Por isto, também contêm falhas.

2º - Não acrediteis em uma coisa apenas por ouvir dizer. Não acrediteis na fé das tradições só porque foram transmitidas por longas gerações. Não acrediteis em algo só porque é dito e repetido por muita gente. Não acrediteis em uma coisa só pelo testemunho de um sábio antigo. Não acrediteis em uma
coisa só porque as probabilidades a favorecem ou porque um longo hábito vos leva a tê-la por verdadeira. Não acrediteis no que imaginastes pensando que um ser superior a revelou. Não acrediteis em coisa alguma apenas pela autoridade dos mais velhos ou dos vossos instrutores. Mas, aquilo que vós mesmos experimentastes, aquilo que vós mesmos provastes e aquilo que vós mesmos reconhecestes como verdadeiro, aquilo que corresponde ao vosso bem e ao bem dos outros, isto, sim, deveis aceitar, e, por isso, moldar a vossa conduta.

Em um dos fragmentos que selecionei, fiz o seguinte comentário, que, para concluir este estudo, repito aqui: se o Senhor Buddha não disse, talvez tenha pensado: Não procurem refúgio nem em Deus. Logo, possivelmente, a maior prisão que o ser-no-mundo enfrenta é a imposição-aceitação de um Deus egregórico, coletivo. Ao nascer, lhe é imposto um Deus; depois, por não conseguir se livrar desta idéia cultural imposta, morre com ela. E versifiquei: Todavia, se vencer gaiola e muro... A Claridade-Vida substituirá o escuro! E mais: por que acreditar piamente e depender exclusivamente do que foi ou do que é dito pelos outros? In Corde loquitur nostro Vox Dei. Em nosso Coração fala a Voz de Deus. Ou como ensina o Budismo:

Todas as coisas condicionadas são impermanentes. Se uma pessoa compreende isto pela sabedoria interior, desembaraça-se do sofrimento. Este é o Caminho da Purificação.

Todos os fenômenos condicionados são vazios e insatisfatórios; trazem sofrimento. Se uma pessoa compreende isto pela sabedoria interior, desembaraça-se do sofrimento. Este é o Caminho da Purificação.

Todas os agregados visíveis e invisíveis carecem de um eu permanente. Se uma pessoa compreende isto pela sabedoria interior, desembaraça-se do sofrimento. Este é o Caminho da Purificação.


Abril de 2008CE
Rodolfo R+C

2 comentários:

  1. Ola Alexandra tudo bem?

    Adorei seu blog e os assuntos aqui tratados com muita propriedade e seriedade. Queria convidá-la a visitar o meu onde também trato de temas afins. Sou fascinado por Buda e também por Krishnamurti. Me darias a honra de sua visita?
    http://alsibar.blogspot.com
    Namastê!

    Alsibar ( Você é minha xará.rsrsr)

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  2. Olá,
    Gostei do seu blog e deste artigo em especial, todavia há pontos que gostaria de conversar/debater em maiores detalhes.
    Se estiver interessada, me contate pelo facebook: Albano Adeus.

    Muita Luz em nosso caminho!

    Muchmetta!

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